“Toda inovação cabal baseia-se numa jornada interior,
numa viagem rumo a um lugar mais profundo
a partir do qual o saber chega à superficie”
W. Brian Arthur
Na década de 90, o Teatro chegou às empresas como recurso de comunicação para grandes grupos. A linguagem dinâmica e bem humorada, acompanhada por cenários e figurinos coloridos, abria espaço para a experiência lúdica no local de trabalho.
Poderia reiniciar este texto reconstruindo a frase deste modo:
“Na década de 90, as empresas chegaram ao teatro como um novo segmento de atuação. Os planos estratégicos, os programas de qualidade, semanas de prevenção de acidentes do trabalho, semanas do meio ambiente, treinamentos e desenvolvimento de equipes e líderes, abriam espaço para que os grupos de teatro inovassem”.
E assim foi!
A cada empresa um novo contexto, que motivava um novo texto e a construção de novas personagens.
Cai por terra a 4ª parede (que nos palcos existe de forma imaginária entre os atores e a platéia, separando o mundo da encenação do mundo real), a platéia entra em cena. Este fato deixa claro que não bastaria aos atores ter preparação corporal, vocal, trabalho de texto, ensaios... seria necessária uma nova atitude: ESTAR PRESENTE.
Para o grupo de atores que vive a ruptura da 4ª parede, recursos estéticos e habilidades como improviso e comicidade, não são suficientes para sustentar os espetáculos com qualidade e resultados surpreendentes. Precisam estar em contato com a platéia, compreender as reações, olhar nos olhos, gerar cumplicidade e ampliar o espaço cênico com veracidade, para se fazer acreditar. E mais... ampliar o espaço cênico fazendo com que a platéia o reconheça como um ambiente seguro e respeitoso, capaz de proporcionar uma vivência lúdica e agradável, com conteúdo. O ator compreende que está a serviço do conteúdo e naquele instante a sua arte pode alterar positivamente a realidade da platéia. O Teatro passa a ser uma ferramenta para o desenvolvimento de pessoas e grupos.
Na dramaturgia a realidade ganha contornos ampliados. Sob os holofotes do exagero as cenas recordam o cotidiano dos colaboradores e provocam uma reflexão sobre atitudes e comportamentos, problemas e soluções pautadas na escolha individual.
Trabalho em equipe, comunicação, relacionamento interpessoal, resolução de conflitos, assertividade, ferramentas de processos e qualidade, gestão de tempo, ato inseguro e condição insegura, prevenção de acidentes, saúde e qualidade de vida são alguns dos vários temas que entram em cena e são disseminados com fluidez facilitando a assimilação do conteúdo proposto. O texto dramático envolve a platéia que é convidada a participar e a dividir o espaço cênico.
Em algumas dramatizações os atores trocam de lugar com a platéia e os colaboradores tornam-se protagonistas e interagem em cena vivenciando os valores da empresa, atuando a partir das competências relacionadas à sua função, percebendo reações diante do inesperado, exercitando a espontaneidade e a criatividade. Equipes resgatam a percepção de time, colaboradores da produção percebem a importância de chegar no trabalho e ir para casa com sua saúde física preservada, líderes treinam o seu papel... pequenas tomadas de consciência tiram o participante da zona de conforto. Todo processo é acompanhado de perto por um diretor que interage com a cena através de técnicas do Psicodrama. Ele tem o “norte”, mas o caminho é construído por todos os presentes.
Viola Spolin, em seu livro “O Jogo Teatral no Livro do Diretor”, diz:
“A presença chega através do intuitivo. Não podemos aproximar a intuição até que estejamos livres de opiniões, atitudes, preconceitos e julgamentos.
O próprio ato de procurar, de estar aberto aos parceiros de jogo,
produz uma força de vida, um fluxo,
uma regeneração para todos os participantes.”
Acredito que a maior contribuição do Teatro para o Mundo Corporativo seja a humanização de profissionais competentes que reconhecendo-se como sujeitos produzem a força de vida que garante o sucesso.
Termino compartilhando uma cena da qual fiz parte protagonizada por um operário da construção civil numa empresa na qual participávamos da SIPAT. Ele recebeu uma convidada da SIPAT dizendo:
- A senhora já viu este pessoal do teatro?
Diante da negativa continuou...
- Pois eu se fosse a senhora sentaria bem lá na frente pois tudo o que eles dizem ajuda a melhorar a nossa vida.
Andrea Leoncini
Idealizadora e Diretora da Awake